
Lembro – me da rua. Muito estreita e cheia de buracos que hoje já não existem. Uma igreja que tinha na esquina e, na outra esquina, um centro espírita. Um dos primeiros centros espíritas que frequentei qual me lembro de muitas histórias. Lá havia uma biblioteca onde comprei um livro que tenho até hoje. Quando tinha uns seis ou sete anos, fui lá com meu primo - dois anos mais velho que eu - num dia que não havia evangelização. Conhecemos uma menina um pouco mais velha que contou várias histórias estranhas e assustadoras que aconteceram lá. Eu e meu primo saímos correndo de volta para a casa da minha avó. Abrimos o portão manual da garagem – que estava quase sempre destrancado e hoje quase nunca o vê aberto – e entramos na casa. Há um corredor estreito à esquerda, que vai até o quintal do fundo, ao lado direito do corredor, há uns degraus que vão até a porta de entrada e, há uma garagem para dois carros no lado direito. Ao entrar na porta de entrada, haviam dois sofás- cama qual usávamos para fazer barracas. Dentro dessas barracas, haviam nossas espadas e o os brinquedos que estávamos brincando. Naquele dia, ficamos nas barracas até que nossa avó chegasse.
Lembro – me de quando éramos só eu e meu primo. Fazíamos poções mágicas que eram constituídas de água , detergente, teias de aranha e todos os incertos que encontrávamos na casa: aranhas, piolhos de cobra, besouros, formigas e até mesmo um rabo de lagartixa. Gostávamos de assistir desenhos na tv globinho, no bom dia e cia – discamos várias vezes no telefone o número 40028922 - porque na casa da minha vó nunca teve tv a cabo. Eu ia muito na casa da minha avó e passava muito tempo com meu primo, era como um irmão mais velho. Quando meu irmão nasceu – e chegou aos três anos – gostávamos de correr dele pela casa e nos escondermos até que ele ficasse cansado de nos procurar. Logo, meu irmão já não nos procurava mais e ia brincar no computador do meu tio – o tio que se pedia uma folha A4 e ele dava somente uma e só dava outra se tivesse ocupado todo o espaço da anterior, frente e verso. Então eu e meu primo começamos a jogar algumas coisas no computador, o que não levava muito tempo já que gostávamos mesmo era de contar histórias de terror, jogar futebol no quintal e comer os doces que minha avó fazia. Conversávamos muito e eu não precisava de nenhum amigo além dele porque já era suficiente.
Um dia, resolvemos fazer um show. Eu sempre adorei cantar e na época gostava muito de NX zero. Fomos em uma papelaria com nosso tio e compramos muitas cartolinas, fitas, colas, colas coloridas, canetinhas e gizes de cera. Fizemos guitarras, violões e microfones – não emitiam som, mas eram firmes. No quintal havia um degrau muito alto e lá seria o palco. Peguei tamboretes e coloquei enfrente ao palco – em cada tamborete, coloquei uma fralda de pano do meu irmão. Fiz os ingressos e entreguei para todos. O Show era às 18 horas, porque deveria estar escuro como em todo show. Havia outro tio, um que sempre andava de cara fechada e um dia jogou um balde de água da minha avó no telhado da “casinha” – que era o lugar onde minha avó guardava tudo o que estava velho, eu e meu primo temíamos muito aquele lugar por ser muito escuro, até mesmo durante o - culpou eu e meu primo. Como sabíamos que não foram nós que havíamos frito isso, ficamos com esse mistério durante muito tempo. Esse outro tio gravou o show e tem a gravação até hoje.
Depois de um tempo, a frequência que ia à casa de minha avó diminuiu. Quando ia, meu primo ficava no computador o tempo todo. E outros amigos surgiram em minha vida. A partir daí, não encontrei uma amizade duradoura, ninguém que eu tivesse valorizado e me passado a perna ou o contrário. Minha avó começou a dizer que eu deveria ser como meu primo, porque ele era muito correto, e por isso eu me afastei dela. Me afastei de meus tios, me afastei do resto. Mas, isso passou. Me acostumei com a ausência de verdadeiras amizades, não me importo com o que minha avó pensa que eu poderia melhorar, porque sei que penso o mesmo de algumas pessoas que amo, amo minha família e a valorizo. Mas, não conheço mais meu primo.
E, hoje, mais velha, vejo que meu irmão não tem a vida saudável. Ele não tem amigos; fica a maioria do dia no celular, Xbox ou computador; não entende nada sobre o mundo; não sabe quem é nem o
que quer; vejo que ele esteve sempre acompanhando eu e meu primo e, quando paramos de brincar, ele também parou. Ele foi antecipado a lidar com coisas que não “cabiam em sua cabeça” para a época, acostumou – se com isso e hoje vive com um rolo em sua cabeça.
Minha irmã, nasceu quando eu estava mais velha e eu a ensinei a brincar de barbie. E, em um ano, minha prima nasceu e as duas vivem brincando/ brigando. Não brincam como eu e meu primo brincavam, não são amigas como nós éramos, mas vivem uma infância mais saudável que meu irmão.
O que me preocupa é a forma como esses fatos influenciam na nossa vida, o passado explica o presente e o presente explicará o futuro. Devemos valorizar as pessoas, mesmo passageiras, sempre. O que não é passageiro? E tudo tem seu tempo, não apresse nada, envelhecer não é a melhor coisa na vida, assim como ser dependente não é, mas os dois fazem parte do pacote que é preciso ser desfrutado aos poucos. Além do mais, é valorizando o presente e vivendo cada segundo dando o seu máximo que você terá histórias para contar às pessoas. Saboreie a vida, não a consuma depressa, vida não te falta, o que falta é energia e paciência. Brinque e diga as crianças para que brinquem, não tenha preguiça de catar brinquedos ou escutar um barulho a mais ou a menos. É saudável, é essencial.
Por Gabriela Vitorino
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