O ódio que você semeia

Por Isabella Freitas
 e Isabelle Alves


O livro “The hate you give”, traduzido em “O ódio que você semeia”, de Angie Thomas, deu origem ao filme de mesmo nome, dirigido por George Tillman, Jr. O nome do livro e do filme faz referência à frase do rapper Tupac Shakur, “The hate you give little infants fuck everybody”, ou “O ódio que você semeia para criancinhas fode com todo mundo”, as iniciais, em inglês, formam a palavra “THUG LIFE”, que significa “Vida de bandido”.
 O foco da narrativa da obra de Angie Tomas paira sobre uma garota negra que mora no gueto e perde um amigo negro em uma abordagem da polícia. Starr e Khalil voltavam de uma festa quando foram abordados por um policial, que atira em Khalil após confundir a escova de cabelo do garoto com uma arma. A história vai colocar os holofotes sobre Starr e a luta dela para conseguir justiça para Khalil e para outros jovens negros que morrem todos os dias por conta do racismo e do sistema – no decorrer da história, são feitas diversas críticas ao racismo institucional que mata jovens negros todos os dias apenas por serem negros.



A personagem principal, Starr, estuda em uma escola particular que tinha apenas um aluno negro além dela. A personalidade de Starr variava dependendo da companhia e do local: quando está com os amigos da escola particular, Starr não usa gírias, não se irrita, não faz cara feia e nem gosta de confrontos. Quando Starr está com os amigos de fora da escola, ela pode ser tudo o que não é na escola onde estuda: fala gírias, diz quando algo a desaponta e entra em confrontos. O racismo por parte das amigas (Hailey, que insiste que não é racista em uma tentativa de ditar a um negro o que é racismo ou não) e da comunidade escolar fazem com que Starr esconda a si mesma e suas raízes. O livro aborda a luta de Starr contra si mesma quando nega as raízes e em como ela se liberta da ideia de que o silêncio é a melhor opção.
De acordo com o artigo “Risk of being killed by police use of force in the United States by age, race–ethnicity, and sex”, publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences, homens negros têm 2,5 de chance a mais de serem mortos pela polícia, e mulheres negras têm cerca de 1,4 a mais em comparação a mulheres brancas nos EUA.
Infelizmente, as estatísticas de violência contra negros não são positivas no Brasil. O Atlas da Violência 2019 mostra que os indicadores de violência letal acerca do ano de 2017 no Brasil apresentam grandes desigualdades entre brancos e negros. Em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios foram negros; para cada não negro vítima de homicídio, foram mortos 2,7 negros. Analisando os dados a “longo prazo”, no período de 2007 até 2017, a taxa de homicídio de negros aumentou 33,1%, enquanto a de não negros aumentou 3,3%.
A campanha “Vidas Negras”, lançada em 2017, coloca os holofotes sobre os números do Mapa da Violência, feito pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLASCO): um jovem negro morre a cada 23 minutos no país.
O alto índice de violência contra negros no Brasil e nos EUA (seja por policiais ou pelo “resto da população”) é motivado pelo sistema e pelo racismo institucional.
A autora do livro, Angie Thomas, faz diversas críticas ao “sistema”: jovens negros de periferias entram para o crime para conseguir dinheiro, pois a falta de oportunidades nas comunidades não prepara os jovens negros para o mercado de trabalho. O pai de Starr diz que “é mais fácil conseguir crack do que uma boa escola por aqui (a comunidade)”. O sistema sempre continuará semeando o ódio para as pequenas criancinhas, futuramente adultos, e isso virará contra a sociedade, na forma de tráfico de drogas, furtos e assassinatos. As pequenas criancinhas e os jovens adultos não podem ficar calados, afinal de contas, o sistema precisa mudar.
“Era uma vez um garoto com olhos castanhos e covinhas. Eu o chamava de Khalil. O mundo o chamava de bandido. Ele viveu, mas não por tempo suficiente, e, pelo resto da minha vida, vou me lembrar de como ele morreu.”
“Khalil, eu nunca vou esquecer. Nunca vou desistir. Nunca vou ficar calada. Prometo.”

CERQUEIRA, Daniel, et al. Atlas da Violência 2019. Disponível em: < http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/190605_atlas_da_violencia_2019.pdf>. Acesso em: 17 out.2019


Nenhum comentário:

Postar um comentário