Começou a caminhar pela estrada. Olhava para o lado e a garotinha estava lá. Sorrindo. Pensava em como tudo o que estava acontecendo era suficiente estranho para deixá-la louca e como tantas memórias distantes pareciam estar tão perto. O que será que fazia em sua vida até então?Não se lembrava de nada. Trabalhos de escola sim, mas viagens com sua família... ela não se lembrava.
A garotinha então a acompanhou até a entrada da cidade. Despediram-se. A imagem da garotinha começou a se transformar em somente traços leves até tornar-se transparente, desaparecer. Clara se perguntava de quando foi que se esquecera de sua outra irmã. Quando seus pais esqueceram de que perderam uma de suas filhas ou até quando eles esqueceram que não tinham só duas filhas.
Muitas coisas não faziam tanto sentido. Um passado próximo esquecido. E as lembranças antigas eram mais translúcidas que qualquer outra lembrança, mesmo comparado as lembranças de poucos minutos atrás.
O que o mundo se tornara? O que se tornaria a partir daquela situação? Nuvens desabando e pessoas se esquecendo de que eram pessoas.
Caminhava para a entrada da cidade se lembrando de várias coisas que aconteceram quando era criança antes de perder sua irmã, depois de perder sua irmã até onde se lembrava.
O tempo todo que estava perto de pessoas, em cinco minutos, começava a ter problemas. Saia correndo. E, exausta, chegou em casa. Passou pela sala correndo para evitar problemas com sua família e foi para a cama dormir.
Agora sim, um sonho. Sonhou que estava em um quarto. Havia uma porta. Abriu a porta e entrou. Era uma sala, lembrava-se dessa sala. Era da casa de uma de suas melhores amigas.
Era Laura. As duas brincavam muito juntas e, as vezes, brincavam com seu primo. Estava ela, Laura e seu primo no cômodo.
Por Gabriela Vitorino
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