"A única coisa boa da ditadura foi o Chico"*

Por Isabelle Alves

Fonte: Wikimedia. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Brasil-chico-buarque-senado-federal-20160829-003.jpg.

Hoje, dia 19 de junho, o cantor, compositor, escritor e dramaturgo Chico Buarque de Hollanda completa 78 anos. O seu interesse pela música data desde a infância:  aos 5 anos, Chico colecionava recortes de cantores de rádio e, na pré-adolescência, criou sua primeira canção “Canção dos Olhos”. Ele era apaixonado pela música internacional, mas sua entrega à Música Popular Brasileira (MPB) veio com o consumo de Chega de Saudade, álbum de João Gilberto. Sempre ativo politicamente, o compositor em questão contribuiu para o movimento da música de protesto brasileira contra a Ditadura Militar sob o pseudônimo de Julinho de Adelaide, com Milagre Brasileiro, Acorda amor e Jorge Maravilha.

Paralelo à data, os alunos dos 9ºs anos da Escola de Educação Básica – ESEBA, participaram da mesa-redonda “Um estudo transdisciplinar da canção Dueto, de Chico Buarque de Hollanda”, mediada pela Profa. Dra. Aline Carrijo de Oliveira, contando com a participação do Prof. Dr. Eduardo Veras, da Profa. Me. Luísa Vogt Cota e do Prof. Dr. Rafael Rocha Pansica. O evento teve duração de duas horas e meia, buscando trabalhar a relação dos textos poéticos com outras artes.

Mesmo sendo Chico Buarque “um cara que dispensa apresentações”, o início da conversa deu-se com a introdução à persona Chico Buarque. Reconhecido por sua capacidade de composição que tece o sentido na relação da letra com o discurso musical, os palestrantes destacaram também a característica criativa de suas obras estabelecerem um diálogo entre eu lírico masculino e feminino, ora escrevendo como uma mulher, ora como um homem.

O diálogo promovido durante a mesa-redonda construiu um cenário que coaduna argumentos musicais, literários e históricos de um Brasil marcado no tempo de conflitos políticos (e que ainda se faz, infelizmente, perceptível nos dias atuais). Ao final deste evento, foi possível compreender que a obra de Chico Buarque de Hollanda representa uma arte que ultrapassa os limites do discurso intelectual e da linguagem cotidiana; ela faz, de uma forma muito perspicaz, sangrar momentos de uma experiência individual que aspira o coletivo.

Depois desse momento, os palestrantes contribuíram com o e-Jornal respondendo a algumas questões que visam destacar a homenagem natalícia do cantor. Segundo  o Prof. Dr. Rafael Rocha Pansica, Chico Buarque é “um compositor refinado e um letrista espantoso, grandioso”. Nessa mesma perspectiva, o Prof. Dr. Eduardo Veras destaca que “a habilidade poético-musical” do Chico Buarque “permitiu não somente driblar a censura no período de exceção, mas também proporcionar uma experiência estética cujo potencial crítico vai muito além do panfletarismo ideológico”. Para Veras, Chico possui uma enorme desenvoltura “para se aproximar da realidade popular, dos humildes e humilhados, do cotidiano e das famílias brasileiras”, e sobre tal, Pansica complementa que “Chico é para quem genuína e abertamente se interessa pelas potências e vulnerabilidades da vida que sua arte sabe tocar”.

Do Samba à Bossa Nova e à Tropicália, os professores são unânimes quanto às marcas presentes na obra do compositor em questão. Prof. Rafael lembra-se de uma entrevista em que Chico Buarque cita, dentre tantos nomes, Drummond, Tom e Niemeyer como fontes de inspiração. No que parece, ainda segundo este professor, “a lista de pessoas que o inspira e que se inspiram nele é vastíssima. Muitos nomes dessas duas listas, aliás, coincidem”. E nesse ciclo de influências, Pansica acredita que a propagação da música de Chico entre os jovens da atualidade é um ato “de compartilhar uma experiência estética, deixar a música fluir e, assim, fazer circular os afetos que esta música pode carregar”. 

Nas palavras do Prof. Eduardo Veras, “Chico é um monumento da Cultura Brasileira. Ali reconhecemos uma explosão de criatividade formal, linguística, poética, musical. Como todo grande escritor, Chico nos ensina a ler, a sentir e a pensar. Acho que o melhor ponto de partida para se aproximar de um compositor e/ou poeta é ouvi-lo e lê-lo. Penso que o aprofundamento analítico, que é importantíssimo, faz pouco sentido sem esse primeiro contato imediato, corporal, sensorial com a obra. Um cara como o Chico nos transforma em pessoas melhores, com mais repertório intelectual e emocional”.

Nesse pleito, por fim, de evidenciar a importância de propiciar a experiência estética de jovens a partir da fruição da obra do Chico Buarque, o e-Jornal também entrevistou duas alunas que participaram como ouvintes na mesa-redonda. Ao serem indagadas a respeito do que conheciam do artista, ambas responderam que sabiam muito pouco, mesmo já tendo escutado algumas canções, inclusive a analisada. Para elas, o destaque do evento assistido está em como os temas que envolvem a produção estética de Chico Buarque foram discutidos, pois fomentou olhares diferentes para o que ouvem, assistem e leem de Arte, agradando-lhes a possibilidade de outros eventos como este. Após a referida atividade curricular, uma das alunas entrevistadas encerrou seus comentários a respeito do compositor, que ora se faz ressoar também nesta matéria, “Inteligente e comovente, é como eu o descreveria. Ele toca o coração do ouvinte... tanto quanto sua mente”. 

*Fala da Profa. Me. Luísa Vogt Cota durante a mesa-redonda “Um estudo transdisciplinar da canção Dueto, de Chico Buarque de Hollanda”, em resposta à provocação feita a respeito de um dos contextos de produção artística e intelectual do compositor em questão.

2 comentários:

  1. Vida longa ao Chico Buarque! Parabéns à profa. Aline Carrijo pela proposta da mesa! Foi uma tarde deliciosa! 🥰❣️ Beijo grande

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  2. Viva Chico Buarque! Parabéns aos alunos pela matéria! Parabéns profa. Aline Carrijo pela iniciativa da mesa! Foi uma tarde maravilhosa! Que tenhamos mais momentos assim! 🥰❣️

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