“Independência ou Morte”: um grito de liberdade ou "fake news"?

   Por Isabelle Alves

No dia 7 de setembro é comemorada a independência do Brasil. Segundo a história conhecida, d. Pedro I estaria às margens do rio Ipiranga, em seu belo cavalo e com sua esbelta corte, quando teria desembainhado sua espada e gritado: “Independência ou morte!”, rompendo as ligações com Portugal em 1822. Este momento, inclusive, pode ser contemplado no quadro de Pedro Américo, de nome equivalente ao grito do imperador.

A história aprendida na escola, no entanto, não condiz com a realidade. Segundo historiadores, d. Pedro I estaria em uma mula, animal frequentemente utilizado em viagens extensas como aquela, com uma corte reduzida e com trajes simples. Sequer o local, a data e o tal grito de “Independência ou Morte” seriam condizentes aos fatos históricos. O próprio quadro de Pedro Américo foi criado anos mais tarde, com elementos na pintura que nem existiram no fatídico dia.

Quadro "Independência ou Morte", de Pedro Américo. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pedro_Américo_-_Independência_ou_Morte_-_Google_Art_Project.jpg.

Ademais, os impactos da declaração não chegam à grandiosidade que se tem como verídica. O Brasil não era um país unificado:  havia os que apoiavam a monarquia portuguesa e os que apoiavam a independência do Brasil. Há indícios que, na época, muitos brasileiros nem souberam do acontecimento, fato que evidencia a independência como ação apenas política, ainda incorrendo em subordinação econômica a Portugal.

Dado o exposto, conclui-se que todo o cenário mítico criado a respeito do fato do “grito da independência” provém da necessidade de criar um ideal de Pátria. Explica-se: o Brasil era, até então, uma colônia de Portugal, extensamente desunificado e precisava de um herói nacional, alguém de quem a população se orgulharia e em quem se espelharia. Destaca-se, infelizmente, que mais de cinco séculos se passaram e ainda se percebem traços dessa complexa dualidade entre desunião e união estimulada em prol de uma articulação política no país.

Esse movimento, praticamente, cultural brasileiro (para não dizer humano), de mobilização dos discursos para cristalização de uma ideário de História ou de construção de um fato, pode ser percebido atualmente nas “convocações” partidárias que fazem uso de um desejo de nação para conglomerar seus “aliados” e fazer volume diante dos opositores. Como também pôde ser identificado em 2019, quando uma corrente de WhatsApp circulava com ficção e Fake News juntas, exaltando a família real brasileira e conclamando para o retorno da monarquia como regime de governo no país. 

Diante de toda a manipulação a qual os cidadãos estão submetidos, até inconscientes e involuntariamente, quanto ao seu próprio passado e futuro, cabe somente uma ferramenta: estar informado! Contudo, essa informação precisa ser plurivalente, buscada em várias fontes, com posições políticas diferentes e, principalmente, analisadas, questionadas, comparadas e dialogadas. Somente nesse confronto intelectual é que a História se faz próxima ao real, faz-se de fato e limpa as informações de falsas notícias, dando condições ao povo de conhecer seu passado, as articulações a que esteve submetido e permite um caminho consciente para o presente. 

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