Vergonha brasileira: lixo eleitoral

Venho falar sobre um problema que vem sendo mais discutido atualmente, mas que ainda não é tão falado como deveria: o lixo proveniente das campanhas eleitorais. Os alunos dos 9ºs anos da ESEBA, juntamente com a professora Mara Rúbia, de Artes Visuais, produziram um trabalho muito interessante sobre o tema, utilizando panfletos de campanha e tendo como inspiração a Op-Arte. 


A Op-Arte é um tipo de expressão artística que usa como recursos a ilusão de ótica e representações abstratas, onde as imagens parecem ter movimento. Seu percursor foi o designer gráfico e artista Victor Vasarely, em 1930. A professora, em entrevista concedida juntamente com os alunos que produziram as obras, explica de onde surgiu o trabalho: “A proposta partiu de mim, devido ao fato do tema da prova AAM [Avaliação Multidisciplinar] ser política e suas possibilidades. A gente então decidiu trabalhar na política pensando na questão visual.”, conta. 

Os alunos, ao serem questionados se já tinham parado para pensar no que a professora trouxe, e quais foram suas primeiras impressões, admitiram que realmente nunca tinham chegado a dar a devida importância ao problema. “Eu achei muito legal e muito importante, porque é um assunto que não é tão tratado no meio jovem, e muita gente não dá importância.”, disse Brenda Soares, do 9º C. “Acho que pra toda sala, ninguém pensava muito nisso não antes da professora ter dado a proposta...”, completa João Luiz, do 9º B. Ele também explica como o trabalho foi produzido: “Primeiramente a professora pediu pra gente recolher alguns panfletos, santinhos pra poder trazer pra ela. A gente recolheu um monte e pegou tinta e começou a cobrir o rosto, cobria uma parte, deixava outra, e assim por diante". 

Quanto ao que o trabalho representa, surgiram diversos pontos de vista, relacionando de várias maneiras a política, a Op-Arte e o meio-ambiente: Aluno do 9ºC, Álvaro Tavares explica que “a questão do meio ambiente é uma das partes principais desta atividade. Porque na campanha o candidato faz um trabalho que a gente poderia ter usado pra uma exposição. Então, é mais pra fazer esse tipo de crítica mesmo. Porque gera um impacto grande.”. Heloísa, do 9ºB, acrescenta: “É tudo ilusão! A Op-Arte depende da visão de quem está vendo, e a política, se você for se aprofundar, você vai entender pelo menos um pouco melhor o que está acontecendo. E no Op-Arte também é do mesmo jeito. Se você só olhar, você vai achar que é um trabalho em cima do outro, uma coisa nada a ver. Mas se você aprofundar, você vai ver que é um desenho com linhas diferentes, formas diferentes...”. 



Além da produção artística, outra linguagem também foi explorada pela professora, como explica João Luiz: “Acho que a maioria da sala gostou, porque a professora pediu pra gente fazer também um texto sobre o que a gente achava sobre a política. Achei bastante importante que a gente colocou nossa opinião e fez um trabalho sobre um assunto que a gente não fala muito.”

Frases destes textos foram expostas juntamente com os trabalhos, como mostra a imagem abaixo:


Os alunos também criticaram o posicionamento de um dos partidos que mais levantam a bandeira da sustentabilidade.“Só queria lembrar do exemplo do Partido Verde, que é um dos que gastam o papel mais caro, sendo que é do Partido Verde [ambientalista], então é meio que uma ironia.”, comenta João Vitor Marcoli, do 9ºC. “Eu achei bom, porque é uma situação que normalmente ninguém pensa, não se fala sobre isso, é muito difícil alguém pegar o papel e pensar ‘nossa Partido Verde [usa] papel mais caro’. A professora levou a gente a [pensar] questões que passam despercebidas, mas cujo impacto é muito grande.”, diz Laura Nicoli, também do 9ºC. A professora Mara Rúbia completa: “E nem é a questão do mais caro só. É questão da qualidade do papel, o papel é muito bom, e aí ele é muito durável.”

Os alunos não só delataram o problema como também apresentaram propostas para mudar a forma como a propaganda eleitoral é feita. “A minha proposta, assim, se eu fosse político, todos os partidos fariam os folhetos com materiais recicláveis, e também substituiriam os cavaletes de madeira, que já são proibido. Tem alguns políticos da cidade de Uberlândia, que fizeram tipo que digital, colocaram um telão, e aquilo lá tirava o horário político da televisão gratuita. Cada um já tem seu candidato certo, eu não sou obrigado a ficar assistindo aquilo lá e tal. Deixava só o dos presidentes e do governador.”, idealiza João Luiz. “O dinheiro que eles investem nestes cartõezinhos eles poderíam investir em escola, saúde, benefício público em relação com o que eles prometem ao povo brasileiro.”, completa Lara Miranda.

Abaixo, algumas imagens tiradas por mim e algumas amigas, no último domingo, em locais perto de onde ocorreu votação:




Simplesmente revoltante. Eu não voto ainda, mas me considero como alguém importante da mesma forma no processo eleitoral, de forma que foi frustrante pra mim e outras pessoas se deparar com o cenário acima. E a culpa não é só dos políticos, todos nós temos papel nisso. Estamos averiguando se as leis ambientais estão sendo cumpridas? Estamos cobrando dos candidatos propostas que levem em conta o meio-ambiente? Outro dia escutei alguém, durante uma discussão sobre o tema, dizer que independente da orientação sexual, cor da pele, religião... se a água acaba estão todos acabados do mesmo jeito. Estou de acordo com essa opinião, sou sim contra todos os tipos de preconceito, mas acho que a questão do meio-ambiente atingiu um grau de emergência e que foi muito pouco falado nas propostas dos nossos candidatos na última eleição.

Por: Isabella Damaceno

Um comentário:

  1. Eu sou acadêmica do curso de ciências biológicas e sei que essa atitude dos partidos políticos é crime ambiental só não entendo porque os responsáveis por tal ato não são punidos, e quero parabenizar aos alunos e a professora pela iniciativa.

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