Clarana - Parte 5


Tinha acordado Ana ao invés de Clara. “Meu Deus, o que fazer?” disse a si mesma. Confusão. “Não posso ir para a escola, vou fingir que estou doente... a voz ajuda” disse. Deitou na cama. Ficou entediada. Olhou para o celular sem bateria. O colocou para carregar. Voltou para cama. Olhou para a sacada. A sacada olhou para ela. Ela sorriu. Levantou-se e escutou o que a sacada dizia para ela:

-Venha, observe aquilo que ninguém vê.

Ana foi andando até a sacada. Abriu a porta de vidro. Abriu as janelas de vidro. Sentiu o ar. Sentiu o sol. O sol que ninguém sente. Sentiu o cheiro. O cheiro que ninguém sente. Começou a chover. A água gelada molhava seus cabelos e seu pijama. Ela sentia. Sentia aquilo que ninguém sentia e encontrava. Encontrava “aquilo que todos pediam”.

Alguém tocou a porta. Ana, já de braços abertos recebendo a chuva, foi até a porta e lembrou-se de que não era Clara. Mesmo assim, abriu a porta. Era sua mãe que disse:

-Tá demorando pra descer, não respondeu as mensagens, vai na escola não?- olhando o tempo todo para o celular.

- Não, estou doente- respondeu Ana.

-Ok, vou avisar a escola- pausa de dois segundos- pronto. Não esqueça de repor a prova de hoje amanhã depois da aula.

-Ok- respondeu Ana que, após isso, fechou a porta.

Suspirou e voltou para ficar mais tempo na chuva.O dia passou. E a chuva também. Ana dormiu na sacada. Acordou Clara. Acordou Clara na cama de Ana.

-Ah não! Ah não! Não pode ser... no dia da prova... não, não, não, não, não- disse Clara- Tenho que voltar para casa.

Com uma camisola rosa claro com as extremidades rendadas, saiu do quarto. Ouviu o silêncio. O silêncio que lhe trouxe calma. Uma calma que foi rejeitada pelo desespero. Andou pelo corredor no qual conheceu Elizabeth. Andou e andou. Viu um quarto e entrou. Era o quarto que tinha acordado. O mesmo de antes. Saiu e continuou andando pelo corredor. Outra porta. Era o mesmo quarto. Continuou andando. A porta do quarto de novo. Não entrou. Deveria, pois não era o mesmo quarto, era o quarto de Clara. Andou e viu a porta, entrou. Não era mais o quarto de Clara, era o de Ana. Correu até se cansar. Ouviu barulho de chuva. Foi até onde vinha o som.

Por Gabriela Vitorino

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