Entendendo melhor: conflito na Síria e a onda de imigrantes na Europa

Esse resumo tem como objetivo esclarecer com linguagem simples e acessível alguns dos conflitos geopolíticos que mais tem sido comentado nos últimos tempos: a guerra civil na Síria e suas consequências. Muitas vezes se torna difícil compreender como tudo começou ou o porquê de tudo se não estivermos antenados às notícias desde o início. Pois bem, aqui vai uma tentativa de resumir os fatos.



Primavera Árabe:

“Tudo começou” quando no dia 18 de dezembro de 2010 o jovem Mohamed Bouazizi morreu por atear fogo no próprio corpo como forma de protesto às condições de vida no país em que vivia, a Tunísia. Mohamed era órfão de pai desde os três anos de idade, e desde os dez trabalhava para ajudar a sustentar a mãe e a família. Antes de morrer, ele sustentava a família com 75 dólares mensais vendendo frutas e legumes nas ruas. Sua forma de protesto, tão corajosa, surgiu após algumas autoridades confiscarem seu carrinho de frutas e legumes alegando ser ilegal a atividade ambulante na Tunísia. Bouazizi recorreu ao governador declarando que não tinha outras opções de trabalho e sua demanda foi recusada. Logo após, comprou duas garrafas de diluente e pôs fogo em si mesmo em frente ao prédio do governo.

O que Bouazizi não imaginava era que sua morte significaria o início de uma onda de protestos que se estenderia por todo o oriente médio. Cerca de 5000 pessoas participaram da procissão funerária. 

Não se pode dizer ao certo quando tudo começou, que foi na morte de Bouazizi que os problemas começaram. Esse foi somente o estopim para que uma série de aspectos históricos e políticos viessem à tona, bem como, para que outros protestos ganhassem força. O termo ‘Primavera Árabe’ é uma referência a Primavera de Praga, período em que a Tchecoslováquia lutava pela liberalização política durante a dominação da União Soviética após a Segunda Guerra Mundial.

Os tunisianos estavam insatisfeitos com o então governante, Zeni El Abdine Ben Ali, que desde 1987 estava no poder e pouquíssimo ou até consideram alguns, nada fazia para melhorar os péssimos índices socioeconômicos do país. Após dez dias de violentos protestos o presidente foi deposto.

Após os protestos na Tunísia, o movimento surgiu no Egito, onde o presidente (há 30 anos no poder) Hosni Mubarak renunciou ao poder em 11 de fevereiro de 2011. Na Líbia, os rebeldes capturaram e mataram a tiros o presidente Muammar al-Gaddafi. Ali Abdulhah Saleh, presidente do Iêmen também foi derrubado graças as manifestações populares em 2012.

Os protestos ainda ocorrem na Argélia, Síria, Bahrein, Marrocos, Jordânia e Omã, com exceção de Marrocos e Omã, todos os protestos objetivam a queda de seus governantes.

Na Síria:

Em 26 de janeiro de 2011, uma série de protestos influenciados pelos que ocorriam nos países vizinhos, se iniciaram na Síria. Como em todos os outros países, o governo de Bashar al-Assad respondeu de forma bastante violenta aos protestos. Diversos grupos de rebeldes se formaram com o intuito de derrubar “um regime ditatorial” e o governo contra-atacou combatendo “terroristas armados”. 

A instabilidade política evoluiu para conflitos religiosos, principalmente entre xiitas e sunitas (vertentes divergentes do islamismo). Aproveitando-se da instabilidade política, principalmente na Síria e Iraque, em 2013 surgiu o conhecido Estado Islâmico. O grupo extremista pertencente aos radicais dos sunitas utilizam de violência extrema (decapitações, crucificações, apedrejamentos, genocídios e sepultamento de pessoas vivas são alguns exemplos) para impor um islamismo super conservador. Eles alimentam ódio pelos xiitas, os EUA, e em menor parte, pela Europa. No início, a organização começou a lutar alegando estar ao lado dos rebeldes, porém, logo começaram a combater não só os governos iraquiano e sírio como também outros grupos rebeldes. Confira abaixo a expansão do EI:


Estima-se que desde 2011 aproximadamente 240 mil pessoas já tenham morrido na Síria por conta do conflito, sendo 12 mil crianças. Cerca de 4 milhões de sírios vivem em outros países como refugiados e compõem a maior população de refugiados do mundo. Os destinos mais procurados são os países vizinhos, como a Turquia, que já recebeu 1,8 milhão de imigrantes desde o início da guerra civil. Ultimamente a Europa também tem sido muito procurada, cerca de 44 mil pessoas saíram da Síria neste ano com destino a costa europeia.

Imigração

Aproximadamente 2,5 mil pessoas se afogaram no mediterrâneo esse ano na tentativa de chegar a Europa, 300 mil conseguiram chegar ao destino segundo a ONU. Depois de entender a situação precária que o Oriente Médio se encontra (guerras civis, pobreza e violação dos direitos humanos), é fácil entender porque a Europa tem sido tão procurada. O problema é que a maioria dos países europeus estão se opondo a chegada desses refugiados, por “não terem condições” de receberem tantos imigrantes. A Hungria, por exemplo, até começou a construir uma barreira de 175km para evitar a entrada desses refugiados.
A preocupação econômica é grande, visto o período difícil que alguns países da Europa, como a Grécia, então passando. Muitos europeus estão desempregados e temem a concorrência com os imigrantes. Os países do Golfo (como Kuwait, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos), ainda mais que os europeus, têm evitado ao máximo a entrada de imigrantes, o visto tem sido concedido apenas a trabalhadores do sudeste asiático e Índia. Em contrapartida, países vizinhos da Síria (Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito) com economias muito mais frágeis e com menos condições, já hospedaram e estão hospedando mais refugiados que a Europa inteira (95%). Muitos já tem sugerido uma divisão mais justa dos imigrantes, na Europa, por exemplo, os refugiados são obrigados a ficarem nos países que chegam o que tem sobrecarregado alguns países que são porta de entrada do continente, em especial a Grécia. Se os refugiados fossem distribuídos de acordo com as condições econômicas e sociais de cada país, a sobrecarga de refugiados seria evitada tanto nos países europeus como nos países árabes que os estão aceitando, onde os refugiados sofrem com a falta de recursos.

Para além da questão econômica, existe uma preocupação de que a Europa se torne “muçulmana” se todos os refugiados fossem acolhidos. A posição xenofóbica é totalmente sem fundamentos, visto que se todos os refugiados fossem muçulmanos, ao serem acolhidos, a taxa de muçulmanos na Europa mudaria de 4% para 5%.

É valido lembrar que refugiados não são parasitas que se instalam nos países apenas para “sugar” os recursos econômicos, a maioria abre seu próprio negócio e contribui para o crescimento da economia local. É bom lembrar também, que se tratam de seres humanos, pessoas como todos nós, que estão em condições precárias, passando fome, frio, violência, com pouca ou nenhuma assistência médica. Cabe a nós nos colocarmos no lugar do próximo, repensar nosso ‘ego-ísmo’ e unir nossas forças para acolher essas pessoas. 

Caso tenha interesse em colaborar com esses refugiados de alguma forma, sugiro a matéria da Folha de São Paulo abaixo, que nos traz algumas organizações-não governamentais que visam arrecadar recursos, em geral, para imigrantes de todo o mundo:


Fontes: 






















Por Isabella Damaceno

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