Clarana: Parte 6



Viu crianças brincando na chuva. Foi ai que percebeu que estava menor. Estava bem diferente.

As crianças estavam brincando no jardim. Clara estava na porta. Olhou fixamente e viu que conhecia as crianças. Eram seus primos. Seu primo foi em sua direção e disse:

-Venha!

Clara começou a correr e correr. Sentiu as gotas de água molhando desde o cabelo até toda sua camisola. Sentiu-se uma criança, e era. Ouviu uma voz, doce que soou bem em seu ouvido dizendo:

- Ana! Venha!

Olhou para ver quem era. Era uma mulher linda. Vestindo um vestido rosa bebê. Clara foi até a mulher. A mulher disse:

-Eu fiz aqueles bolinhos que você adora.

Clara deu um sorriso e a abraçou. A mulher se levantou e, segurando a mão de Clara, chamou as crianças para dentro. Clara tomou um banho e vestiu um vestido branco. Estava no quarto de Ana. Foi para o corredor e ouviu alguém correndo. Aproximava-se o som. Era seu primo. Clara o seguiu. Chegou até uma sala.

Rústica. Um sofá velho enfrente a uma lareira. Chão de madeira. Paredes de madeira. A mulher linda cobrindo as crianças que eram os outros primos e primas de Clara. Todos envoltos da lareira. A mulher cobriu Clara e seu primo. Depois serviu os bolinhos e leite. Bem quentinhos. O silêncio. Havia o som que a lareira produzia ao queimar a lenha. Mas era calmo. Havia o som das crianças rindo baixinho e comendo. Mas era calmo.

O silêncio e suas diferentes formas. O que realmente poderia ser considerado, então, silêncio? O homem criou vários idiomas para nomear as coisas. Todos são traduzidos de idioma pra idioma, mesmo assim, não conseguimos criar palavras que são capazes de definir coisas mais básicas. Amor. Dor. Medo. Felicidade. Tristeza. Estresse. Deus. Silêncio. O vocabulário desse mundo é pobre para definir certas coisas. E será que existirá algum dia palavras para defini-las? Ou as pessoas, ainda por cima, vão abrevia-las? Mas ok. Temos as definições escritas em um dicionário. Com falhas.

Um homem entrou no cômodo e começou a cantar uma musica para as crianças. Clara fechou os olhos para sentir tudo o que estava acontecendo e escutou algo caindo. Abriu os olhos.

-Você joga muito mal sabia?- seu primo disse.

-O que?- Clara respondeu. Sem entender o que havia acontecido. Ela não era mais uma criança.

Estavam no quintal na casa. Uma casa no mesmo lugar, porém diferente. Maior. E tinham várias casas na rua. Havia uma rua. A casa era a maior. A maior da rua. Branca. Grande. Uma mansão. Ela olhou envolta. Olhou para o primo já impaciente que disse:

-Vai jogar mais não? Covarde!

-Claro que vou!- respondeu Clara.

Os dois ficaram jogando por horas e horas até cansarem. A mulher linda apareceu. Agora muito mais bonita. Estava junto ao homem que cantara no dia de chuva. Muito amor estava relacionado a tudo lá. As pessoas. O lugar. Sons de pássaros cantando. Sons de outros animais. Sons de crianças, bem baixos. A calma predominava. Amor estava em todas as coisas.

-Querem bolinhos? Acabei de fazer. - disse a mulher linda.

Os dois responderam que sim e entraram.

-Vou descansar, pois amanhã eu vou tirar a foto da campanha. - disse o homem.

-Quem diria, prefeito. - respondeu a mulher linda.

Clara foi com seu primo até a cozinha. Comeram bolinhos. Alguém tocou a porta. A mulher linda abriu, era a mãe do primo de Clara.

-Olá Madie. –disse a mulher.

-Olá Marta. –respondeu a mulher linda.

Mulher linda, agora Madie. Quem seria Madie?

-Meu filho se comportou bem?- perguntou Marta.

-Claro que sim, como sempre. – respondeu Madie.

-Que bom! Vamos filho. – disse Marta.

Clara despediu-se de seu primo, que agora, não era primo mais, era um amigo. E qual era seu nome?

-Bernardo, vamos!- disse Marta, revelando então um nome para o primo de Clara, naquela ocasião, na qual, era chamada de Ana, com rosto de Clara.

Após Bernardo ir embora, Madie fechou a porta e disse:

-Como foi o dia?

-Foi agitado- respondeu Carla.

Madie riu e disse:

-Agitado como?

-Muitas coisas aconteceram. - respondeu Clara.

Madie olhou para Clara. Triste. Talvez preocupada. Começou a dizer:

-Um dia agitado, só agitado, é um dia normal. Um dia desgastante, é um dia de luta. Um dia calmo, sem reflexões, é um dia perdido.

Clara sorriu e Madie a abraçou. Clara deitou em seu colo e dormiu. Acordou em sua cama. Como Clara em cama de Clara.

-Que dia é hoje?- disse a si mesma.

Por Gabriela Vitorino

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