Clarana - Parte 7



Levantou-se e foi até a mesinha onde estava o celular. Pegou o carregador, o conectou no celular e depois na tomada. Ligou o celular. O celular começou a receber mensagens. E recebia, recebia, recebia. Mais, mais e mais. Ela o soltou. Era impossível ver a data. O dia e estava frio. Muito frio. Pela sacada, via neblina. Vestiu um moletom e, pela porta da frente, foi para a sala do café. Estava vazia. Achou estranho, parecia de manhã. Será que acordou já na hora do almoço. Passou pela cozinha e pela neblina para chegar a mesa do almoço. Vazia. Estranho. “Será que acordei tão tarde assim?” disse para si mesma. Porém ouviu resposta de uma formiga. Era Marta, e disse:

-Não, desculpe a demora, é que ainda não consegui chegar a mesa de café da manhã.

Clara respondeu:

-Tudo bem, você, pelo menos, viu meus pais?

-Não.

Após a resposta de Marta, Clara saiu procurando seus pais e sua irmã. Entrou na sala e viu os dois sentados no sofá de costas discutindo. “Que alivio!” foi o que disse. Quando levantaram, um bicho de duas cabeças, a junção dos dois. Um monstro enorme. Uma cabeça, mãe, outra cabeça, pai. Os dois se curvaram para perguntar a Clara:

-Onde estava?- disseram ao mesmo tempo.

-Dormindo – respondeu.

-Vá se arrumar, a levaremos para a escola- disseram, novamente, ao mesmo tempo.

-Estão sem celular? – perguntou Clara ao ver que não havia nada nas mãos deles.

-Sim, todos os celulares desapareceram ontem – responderam.

Levantaram. Clara subiu as escadas correndo. Preocupada em quanto tempo já passou desde a última vez em que esteve como Clara em mundo de Clara. E estava preocupada também em quando mudaria sua situação. Pensou em não dormir mais. Não fechar mais os olhos. Talvez daria certo. Passou o dia inteiro sem piscar, pois não podia perder mais nenhuma prova.

Subiu nas costas de seus pais enquanto observava os outros pais levando seus filhos para a escola do mesmo jeito. Chegou na escola. Nenhum dos alunos sabia onde ficavam suas salas. Os professores resolveram dar aula na rua. Não sabiam como dar aula. Permaneceram todos, na neblina, em silêncio. Dessa vez, silêncio. Nem um barulho. Até o som de uma coruja. O som fez com que os alunos começassem a se desesperar. Correram sem saber onde estavam as tais corujas por causa de neblina. O som das corujas, com o som de outros animais que começaram a surgir faziam os alunos, aterrorizados sofrerem metamorfoses. Se tornaram sons. Os sons que mais os aterrorizaram. Até se espalharem pela cidade. Os professores também. Clara não. Clara resolveu sair da escola a pé observando o caos, sem piscar. Até cair do céu e atravessar o chão. Estava no mesmo lugar. A neblina havia passado. Todos estavam com seus celulares. Era o dia da prova. Clara entrou na escola.

Foi para casa. Não dormiu. Se arrependeria disso depois. Amanheceu e Clara foi para a sala do almoço. Subia a escada, sentou na mesa, todos chegaram.

-Bom dia!-todos disseram.

Passou, aproximadamente, cinco minutos que o dia havia começado. O pai de Clara a dirigiu a palavra:

-O que está fazendo nessa mesa? Quem disse que você poderia voltar a essa casa?

Sua mãe, seu pai e sua irmã começaram a repetir. Marta não estava na sala. Clara levantou-se e correu para seu quarto. Confusa. Acabou dormindo. Acordou tudo normal, pensou. Aquele mal deve ter passado. Andou pela casa e não viu ninguém. Arrumou suas coisas, chamou um taxi. Entrou no taxi. Viu a mulher olhando para ela pelo retrovisor uma vez pelo caminho. Mais uma vez. Outra vez, e a mulher franze a testa e, nervosa, diz:

-Saia! Não fale nada! Vá embora!

Clara sai correndo e vai a pé para a escola, sozinha. Entrou na escola. Em uns seis minutos, os alunos começaram a cercá-la e rir dela, com raiva. Começaram a jogar coisas nela e dizer “É bom, não é? O que você fez...!”, “Muita coragem estar aí! Ter vindo até nós... cara de pau!” .

Por Gabriela Vitorino

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