Resenha: O Nome do Vento

O Nome do Vento  (Arqueiro) é o primeiro volume da trilogia A Crônica do Matador do Rei. É o romance de estreia de Patrick Rothfuss, que já foi aclamado pela crítica e continua sendo um grande sucesso, entrando para a lista de mais vendidos do New York Times. A obra também foi ganhadora do Quill Awards, importante prêmio literário americano, cujos vencedores são escolhidos pelos leitores. O Temor do Sábio é o segundo volume da trilogia e já foi lançado no Brasil, em 1 de março de 2011. Já o terceiro volume da trilogia ainda está sendo escrito pelo autor e seu título ainda não foi divulgado, mas existem rumores de que se chamará The Doors of Stone (As Portas de Pedra), ainda sem nenhuma confirmação do autor.

Patrick James Rothfuss, considerado um dos melhores escritores da atualidade, tem 41 anos e é graduado na Universidade Estadual de Washington, como bacharel em Inglês. Atualmente, reside na região central de Wisconsin, onde leciona na Universidade local. Em seu tempo livre, escreve uma coluna satírica, pratica a desobediência civil e se dedica por diletantismo à alquimia, como descrito no próprio livro.


Com toda essa febre vampiros, zumbis e afins, O Nome do Vento serve para fugir desta realidade. O ambiente em que se passa a história é totalmente diferente do que conhecemos. O tipo de narração, possuindo vários flashbacks do protagonista, é um novo jeito de narrar que agrada muitas pessoas e que destoa de todas as narrações tradicionais, simples e lineares. A obra agrada tanto o público jovem quanto o adulto. Por ser um livro denso, pode acabar “espantando” alguns leitores mas, aqueles que se aventuram e começar a lê-lo, acabam o adorando.

Apesar do livro abordar um tema comum, a magia, Rothfuss escreve de uma maneira tão surpreendente e tão criativa, que acaba não parecendo nada com os romances atuais que envolvem esse tema, surpreendendo os leitores.

Cada volume da trilogia corresponde a um dia, pois o personagem protagonista pede, apenas, 3 dias para contar a história de sua vida.

Kvothe, que é o personagem principal da obra, é conhecido como um homem destemido, extremamente inteligente, audacioso, orgulhoso e até mesmo um mito que, como ele mesmo diz: “Eu sou um mito. Um tipo de mito muito especial, que cria a si mesmo.” Mas por que um mito que cria a si mesmo? Isso é respondido ao longo da trama, quando Kvothe conta mentiras sobre sua vida e habilidades. Mas não era só ele que mentia sobre sua vida, outras pessoas que conviviam com ele também inventavam coisas sobre ele e, por isso, algumas pessoas acreditavam que ele nunca existiu, ou que já morreu. Existem muitas histórias sobre Kvothe, algumas retratando que ele é um assassino, outras que ele é um herói. Alguns dizem que ele teve uma mulher, mesmo sem saberem nada a respeito da verdadeira sua história. E é para descobrir a verdade sobre a vida desse homem misterioso, que o Cronista Devan Lochees vai a hospedaria Marco do Percurso, a qual Kvothe é dono.

Mas é errado dizer que Kvothe é dono da hospedaria, pois ele não é. Quem é o dono é Kote, que é a mesma pessoa que Kvothe. O que nos deixa um pouco confusos, pois o personagem principal não tem um único nome. Ele já foi chamado de Kote, Maedre (que pode significar "A Chama", "o Trovão" ou "A Árvore Partida) pelos ademrianos, E'lir por seu primeiro mentor, Duleitor por sua primeira amada, Reshi por seu aprendiz, de Umbroso, Dedo-Leve e Seis-Cordas, de Kvothe, o Sem-Sangue; Kvothe, o Arcano; e Kvothe, o Matador do Rei. Mas o nome com que foi criado (e o mais mencionado na história) é, simplesmente, Kvothe.

O livro está dividido em 92 capítulos e um epílogo intitulado de “Um silêncio de três partes”, que também é o título de seu prólogo. Até o vigésimo nono capítulo, a trama é apenas uma introdução e, a partir daí, ela começa a deixar o leitor mais curioso sobre a história.

Nos primeiros capítulos, é retratado como Kvothe vive sendo Kote, dono da hospedaria Marco do Percurso, que recebe pouquíssimas pessoas. Depois que Devan Lochees (que é chamado apenas de Cronista durante a trama) chega na hospedaria e convence Kvothe a contar sua verdadeira história de vida, o protagonista conta como começou a aprender a magia com um Arcanista e retrata como estava feliz com seus novos conhecimentos e apresentando peças com sua trupe, que participava com a família.

Mas, assim que Kvothe volta de um passeio da floresta, encontra todos os integrantes de sua trupe mortos e seus assassinos, que ainda continuavam no local onde sua família estava. Kvothe se surpreendeu ao notar sinais de quem era aquele grupo que acabara de matar sua família: Fogo azul e uma sombra ao redor de um suposto líder. De acordo com os conhecimento do garoto, que naquela época tinha 11 anos, aquelas características pertenciam a lenda do Chandriano.

Os próximos capítulos retratam o sofrimento de Kvothe, passando fome, frio e tendo apenas o alaúde (instrumento) de seu pai e o livro que o Arcanista lhe deu, Retórica e Lógica, como companhia. Assim que chegou a uma cidade maior, Tarbean, arranjou inimigos e não tinha casa para dormir e nem comida para comer, e vivia de roubos que realizava. Seu único objetivo, além de sobreviver, era conseguir dinheiro para poder ir para a Universidade (escola que ensinava a magia) e descobrir mais sobre esse lendário e misterioso grupo que matou sua família. Tudo que acontece na trama tem como início essa lenda, pois Kvothe queria tanto descobrir mais sobre el, que chegava a fazer coisas absurdas, que arriscavam sua vida.

Uma das características não muito boas no livro, é que ele é muito extenso e um pouco entediante no começo. A introdução da história tem, no mínimo, 150 páginas, sendo cansativo. Nessa introdução existem conflitos, mas estão misturados ao sofrimento de Kvothe e acabam não tendo tanta ênfase. Mas quando Kvothe entra na Universidade, tudo muda. Ele cria inimigos, desafia seus mestres, encontra passagens secretas, lugares abandonados, faz amizades, toca seu alaúde, faz empréstimos que não consegue pagar, fica famoso (até demais), ganha um prêmio, viaja para Imre e muitas outras coisas que deixam o leitor ora ansioso para saber o que acontecerá na próxima página, ora surpreso por descobrir que os personagens fazem o oposto do que pensava.

Mas, para aqueles que realmente se envolveram com a leitura, quando o leitor acaba de lê-lo, além de ficar sentido um vazio no peito por não ter mais o que fazer e sofrendo como se a vida estivesse acabado (quem nunca?), ele continua curioso sobre o que acontecerá no próximo livro. Como Kvothe se tornou um simples proprietário da hospedaria Marco do Percurso? Se é a Crônica do Matador do Rei, como e por que ele o mata? Ele é o herói ou vilão? Essas são perguntas não respondidas no primeiro volume da trilogia, mas que deixam o leitor extremamente curioso para saber o que acontecerá na próxima aventura do protagonista e amigos.

O que impressiona muitos leitores é o conceito de magia presente no livro. Na saga Harry Potter, apenas algumas pessoas tem a habilidade de praticar a magia e, quando praticada, esta não proporciona efeitos colaterais no praticante e basta fazer um movimento "aleatório" com a varinha para realizar um feitiço, o que não acontece na trilogia de O Matador do Rei. Todas as pessoas são capazes de praticar a magia, que é ensinada na Universidade (que é localizada perto de Imre, onde o personagem vai muitas vezes). Se praticada em excesso ou realizada uma conexão fraca para a obtenção da magia, o praticante tem muitos efeitos colaterais, tais como: fraqueza, desmaio, perda de ar e, se a conexão for feita com o calor do corpo ou o sangue, até mesmo a perda do calor corporal, a hipotermia.

Muitas vezes, a prática da magia leva os usuários à beira da morte. Kvothe se destaca pela sua inteligência e facilidade ao praticá-la. O personagem faz alguns inimigos, mas não se acomoda no papel de vítima e usa cada injustiça sofrida para mostrar suas capacidades e construir as poucos sua fama, atitude que ao decorrer da história lhe rende vários apelidos como, por exemplo, Kvothe o Sem-Sangue.

Fantasia é um tema que é geralmente escrito para o público infanto-juvenil mas, a obra escrita por Rothfuss conquista até mesmo o público adulto. A descrição feita pelo autor é um pouco complexa, pois ele nunca descreve completamente um local, as descrições vão aparecendo ao longo da cena. O mesmo acontece com os personagens, deixando dúvidas sobre Kvothe. O objetivo do personagem protagonista não fica claro no primeiro volume da trilogia, devido as decisões completamente imediatas, sem planejamento e ruins, tomadas por ele.

Eis aqui um dos inúmeros trechos brilhantes e reflexivos feitos por Kvothe que pode representar, magnificamente, como o livro é espetacular:

“A maior faculdade que nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar com a dor. O pensamento clássico nos ensina sobre as quatro portas da mente, e cada um cruza de acordo com sua necessidade.

Primeiro, existe a porta do sono. O sono nos oferece uma retirada do mundo e de todo o sofrimento que há nele. Marca a passagem do tempo, dando-nos um distanciamento das coisas que nos magoaram. Quando uma pessoa é ferida, é comum ficar inconsciente. Do mesmo modo, quem ouve uma notícia dramática comumente tem uma vertigem ou desfalece. É uma maneira de a mente se proteger da dor, cruzando a primeira porta.

Segundo, existe a porta do esquecimento. Algumas feridas são profundas demais para cicatrizar, ou profundas demais para cicatrizar depressa. Além disso, muitas lembranças são simplesmente dolorosas e não há cura alguma a realizar. O provérbio “O tempo cura todas as feridas” é falso. O tempo cura a maioria das feridas. As demais ficam escondidas atrás dessa porta.

Terceiro, existe a porta da loucura. Há momentos em que a mente recebe um golpe tão violento que se esconde atrás da insanidade. Ainda que isso não pareça benéfico, é. Há ocasiões em que a realidade não é nada além do penar, e, para fugir desse penar, a mente precisa deixa-la para trás.

Por último, existe a porta da morte. O último recurso. Nada pode ferir-nos depois de morrermos, ou assim nos disseram.”
Capítulo 18, Estradas para locais seguros, página 124

por Julia Alvarenga

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