Clarana - Parte 4



Paravam e se sentavam, sem perceber, uns ao lado dos outros. Clara passou pelo refeitório correndo e se sentou ao lado de sua amiga que a levava todos os dias para a escola. Não houve diálogo. O sinal tocou e todos, se esbarrando, voltaram para as salas de aula. Mais uma hora tendo aulas do mesmo jeito, mudando somente os arquivos.

O sinal bateu, todos saíram da escola, se esbarrando, só olhando para o celular, até a saída da escola. Clara viu Jade entrando no carro de seu pai e indo embora. Clara entrou no carro de sua vizinha que estava buscando as filhas. Quando chegou em casa, desgastada pela manhã horrível na escola, deitou-se no sofá da sala.

Com a mochila no chão, deitada de costas no sofá, nem percebeu que Marta estava parada observando a cena. Seus pais entraram na casa, com os celulares nas mãos, um barulho soou na cozinha. Marta correu para a cozinha e leu a mensagem que a mãe de Clara havia enviado: “Hoje eu e meu marido jantaremos fora, cumpra o cardápio que Clara te enviar”. Antes de Marta sair, o barulho, novamente voltou. A mensagem era: “Almoço, mesma coisa”.

Marta esperou mais um barulho. Não? Ok. Começou a arrumar o jantar. Clara virou-se no sofá e olhou para o teto. Branco. Olhou para o lado, tevê que há muito tempo não era ligada. Sentou no sofá. Bege. “Muito grande” disse Carla, falando sozinha.

-Ninguém senta ai faz tempo- disse Marta da cozinha.

Clara pensou em responder, era o certo. Mas não o fez. Levantou do sofá, pisando no tapete branco que sua mãe escolhera com seu pai antes de comprar a casa. Saindo do tapete, pisou no carpete. Mesmo bege do sofá? Não voltou para reparar. A sala, tinha mais alguma coisa? Não olhou. Mas como não sabia se tinha? Morava lá já fazia tempo, não se lembra da ultima vez que foi na sala, além dessa agora.

Chegou em seu quarto e colocou a mochila na mesinha. Tomou banho e vestiu roupas para ir para a academia. Saiu pelo quarto pela porta, andou pelo corredor no qual não via ninguém, desceu as escadas. Chegou na sala e passou pela entrada da cozinha que ia para a lavanderia e também para onde ela estava indo. Poderia ter passado por lá e ter dito “Boa Tarde” para Marta. Mas não o fez. Foi até a porta de vidro no final da sala que dava de frente com a piscina. Do outro lado, a mesa do almoço, já montada por Marta, porém vazia ainda. Sentou na mesa. Marta foi até lá para servi-la. 

-Como não recebi o seu cardápio de hoje, fiz igual ao de ontem- disse Marta que já esperava um belo “elogio” como o de sempre.

Clara só concordou com a cabeça. Poderia ter dado um voto de confiança, mas não o fez. Pouco tempo depois seus pais chegaram se esbarrando, com os celulares nas mãos, e se sentaram na mesa. Foram servidos e soltaram os celulares. Olharam um para o outro e a mãe disse:

-Merida, como espera que eu almoce olhando para isso?

Marta respondeu:

-Olhando para o que senhora?

-Como assim o que? Não vê esse ser alto, de cabelos brancos, velho, esse terno que comprou sozinho, como toda certeza- A mãe estava errada em relação ao que afirmava, ela o deu de aniversário.

O pai pegou o celular e saiu da mesa. A irmã de Clara estava chegando. O pai esbarrou nela que caiu na piscina. A menina saiu com o celular, sentou na mesa e almoçou. Saiu da mesa e foi para o quarto. A mãe também. Marta tirou a mesa. Clara foi para a academia.

Voltando de lá, foi para o quarto. No outro dia tinha aula, e provas. Foi dormir após tomar banho.

Acordou no dia seguinte. Sentindo-se mais magra. Estranho. Pensou em se olhar no espelho. Realmente estranho.

Por Gabriela Vitorino

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