Alice no país das maravilhas e a importância da leitura



Por Isabella Freitas

No dia 4 de outubro de 2019, a editora Darkside Books lançava três edições do clássico infantil Alice no país das maravilhas. Escrito originalmente por Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo pseudônimo Lewis Carroll, e traduzido por Marcia Heloisa, o livro narra a história de uma pequena garota espertinha e criativa chamada Alice.


Alice estava sentada com sua irmã à beira do rio quando, velozmente, um coelho branco com olhos cor de rosa, usando um relógio de bolso, passou correndo por sua frente à destino de uma toca. Os leitores geralmente já conhecem o que vem a seguir: Alice cai em um buraco na toca por horas a fio e quando chega ao chão se depara com uma sala cheia de portas trancadas.
Para abri-las, Alice se atrapalha entre bolos e bebidas decorados com “coma-me” e “beba-me” e finalmente sai para a superfície do País das Maravilhas. Curiosamente, a princípio o livro tinha o nome de Alice’s Adventures Under Ground, ou seja, a história de Alice no País das Maravilhas se passa embaixo da terra.
          São narradas muitas aventuras ao longo do livro e a criatividade de Lewis Carroll nos apresenta cenas, enigmas, trocadilhos, e personagens reflexivos e cômicos. Como diria o gato de Cheshire, todos são malucos no País das Maravilhas.

“Ah, isso é inevitável”, disse o Gato. “Somos todos malucos aqui. Eu sou maluco. Você é maluca.” “Por que diz que sou maluca?”, indagou Alice.“Só pode ser”, disse o Gato, “ou não teria vindo parar aqui.”

          A pesquisadora Marcia Heloisa escreve que o Gato de Cheshire tem essa nomenclatura devido a abundância de leite na região do condado de Cheshire, na Inglaterra. Por isso, os gatos viveriam sempre sorrindo.
            Além de contar ao leitor sobre a origem do nome do Gato, dois outros ilustres personagens ganham explicações a respeito de seus nomes: a Lebre de Março e o Chapeleiro Maluco. O nome Lebre de Março vem da expressão “louco como uma lebre de março” – o período de acasalamento das lebres, na Europa, tem início em março. O nome do Chapeleiro Maluco vem do fato de que o mercúrio era utilizado na confecção dos chapéus – a exposição ao mercúrio ocasiona distúrbios neurológicos.
            Alice conhece a Lebre de Março e o Chapeleiro Maluco quando os encontra tomando chá e participa do evento, mesmo sem ter sido convidada. O engraçado é que o chá não tem fim e a explicação é narrada junto com uma engraçada história com o tempo.
Após uma charada sem resposta – “O que um corvo tem em comum com uma escrivaninha?” – Alice diz que o tempo não deveria ser desperdiçado com charadas sem respostas, e após algumas conversas, cita que marcava o tempo quando estudava música. O Chapeleiro protesta, e diz que:

“Ele (o tempo) não suporta ninguém marcando em cima dele. Ora, quando se tem bom relacionamento com o Tempo, ele permite que se faça praticamente tudo o que quiser com as horas.”

O chá não tem fim porque em um concerto oferecido pela Rainha de Copas, o Chapeleiro matou o tempo enquanto cantava algo parecido com “Brilha, brilha, estrelinha”. Desde então, são sempre seis da tarde para o Chapeleiro.
Em meio a lições de moral, personagens interessantíssimos e trocadilhos enigmáticos, Lewis Carroll constrói um mundo criativo, complexo e propício para imaginação infantil flutuar. A editora Darkside Books, além de duas versões com o texto traduzido da obra original de Carroll, traz uma versão adaptada para crianças. A edição dialoga diretamente com a criança, incluindo perguntas e explicações no meio da narrativa.
Pensando na edição adaptada para crianças, podemos refletir acerca da importância da leitura para crianças, mesmo que seja uma história contada pelos pais enquanto a criança ainda não sabe ler. De acordo com a 4ª edição da Pesquisa Retratos da Literatura no Brasil feita pelo Ibope e encomendada pelo Instituto Pró Livro em 2016, crianças e adolescentes leem mais que os adultos: 84% das crianças que tem de 11 a 12 anos e 67% das crianças na faixa de 5 a 10 anos são leitoras.
A literatura para crianças exercita competências como a leitura e escrita nos pais das crianças que contam as histórias e nas crianças que leem por si mesmas. De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela Organização não governamental (ONG) Ação Educativa no ano de 2016, apenas 8 em cada 100 pessoas tem capacidade de interpretar um texto. A leitura para crianças muda esse cenário, pois desde pequenas seriam ensinadas a escrever e descrever suas próprias ideias, além de ler mais rápido e melhor.
 Além disso, a criança de torna independente para aprender sozinha e ter as próprias ideias, exercitando a empatia a partir da leitura de pontos de vistas diferentes.
Cabe às escolas, ao governo, aos pais, aos responsáveis, aos amigos e a sociedade como um todo incentivarem a leitura. Não apenas para crianças e pré-adolescentes, mas para qualquer faixa etária. O hábito de ler muda e transforma vidas: previne doenças, relaxa, desenvolve competências socioemocionais, pensamento crítico e exercita a empatia.

“Ler um livro é para o bom leitor conhecer a pessoa e o modo de pensar de alguém que lhe é estranho. É procurar compreendê-lo e, sempre que possível, fazer dele um amigo.” (Hermann Hesse)

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