Franz Kafka: legado e consagração

                                                                                                                           
                                                                                                                                         Por Isabelle Alves

            Em 3 de junho de 1924, Franz Kafka deixava a vida para entrar na história. Tcheco, de origens judaicas e escrita alemã, Kafka se considerava desde muito jovem ateu e socialista, formara em Direito e escrevera em seu tempo livre, mesmo não tendo publicado sequer um quinto de todo seu acervo literário em vida; pelo contrário, o mundo só soube de sua grandeza graças a Max Brod, amigo a quem Kafka transmitiu seu último desejo de ter suas obras queimadas – desejo esse que, como hoje sabemos, foi contrariado.
            Quando se fala de Kafka, é inevitável que A Metamorfose venha em mente. Sua novela mais famosa e citada foi escrita em 1912, mas publicada apenas em 1915, com os empecilhos da Primeira Guerra Mundial. A obra acompanha Gregor Samsa e sua inexplicável metamorfose em inseto, causando complicações em seu trabalho, ambiente familiar e relação com o corpo. A análise do livro traz a crítica socialista quanto à inutilidade que Gregor se prova para a família ao não ser mais o fornecedor da renda, além da semelhança entre o relacionamento de pai e filho no texto e na vida de Kafka.
            As obras de Kafka, inclusive, trazem regularmente uma relação paternal hostil, como em O Veredicto, em que o enredo se baseia no julgamento do pai contra o filho, Georg, estando o último prestes a se casar e a procura do parente para aconselhá-lo quanto ao amigo russo com quem troca cartas. A figura paterna inicia uma série de questionamentos, partindo da desconfiança para com o tal amigo russo, seguindo da vitimização do pai e finalizando no “veredito”, induzindo o protagonista “à morte por afogamento”.
            Em seu romance O Processo, a figura autoritária se sobrepondo ao protagonista vitimado se mantém, acompanhando o caso do bancário Josef K., acusado de um crime não especificado, mas que não cometeu, independentemente. Na específica obra presente, há ainda a crítica ao sistema judiciário e a semelhança de casos em períodos ditatoriais. Em O Castelo, K. não é um bancário, mas um agrimensor estrangeiro inferior a tudo e todos. Em mais uma narrativa sobre impotência, o romance se encontra inacabado, finalizado em meio a um período, tal como em Uma Aflição Imperial, livro fictício presente em A culpa é das estrelas. O último, porém, tem uma explicação – a protagonista morre em meio a um diálogo. Já o primeiro, o fim súbito apenas deixa o leitor sem saber “o que ela disse”.
            Dentre tantas outras obras, como Amerika (1927) e A Grande Muralha da China (1931), Kafka construiu seu legado. Mesmo que tenha sido nomeado um dos escritores mais influentes do século XX somente após a sua morte, seus textos se tornaram leitura indispensável. Em vida, não teve o devido merecimento, mas o tempo trouxe o que lhe fora devido.
            Em 2013, o Google homenageou o escritor em seu doodle, logo da página inicial. A arte fazia referência à novela A Metamorfose, com Gregor Samsa em sua forma de “barata”, e uma maçã no L, referente ao episódio de fuga entre pai e filho, em que o Senhor Samsa arremessa maçãs em Gregor.
(Foto: Reprodução/Google)

            Em Praga, cidade de Kafka, a praça ao lado de sua casa leva seu nome - Franze Kafky Námestí – bem como o café instaurado em sua antiga residência. Uma estátua em que Kafka está sentado no ombro de um gigante sem mãos nem cabeça foi inaugurada em 2013, relação direta com seu conto Descrição de uma luta. Existem outras duas importantes estátuas em sua homenagem, uma delas na frente do Museu Kafka, que exibe livros na primeira edição, cartas, diários e desenhos do escritor.
            Um beijo em Franz Kafka é o nome da peça ficcional escrita por Sérgio Roveri, dramaturgo brasileiro, que acompanha Franz Kafka em seu dilema quanto ao futuro de suas obras, dois meses antes de sua morte, e seu pedido a Max Brod para que as incinere.
Em 2019, um Concurso Literário da Revista PUB que antes trouxera a escrita de “Contos Góticos e Pós-Apocalípticos”, em homenagem à Mary Shelley, autora de Frankenstein, no ano citado fez homenagem à Kafka e seus textos reivindicando a aplicação dos direitos humanos. Por causa do cenário atual, as inscrições se estenderam para 3 de julho, aniversário de Kafka, de tal forma que ainda pode-se remeter um conto, individual ou em parceria, com o tema “injustiça e o poder do estado”. Para mais informações, confira: https://www.revista-pub.org/contos2020.
Vemos Kafka em todo tipo de homenagem, sendo foco em livros, monumentos, peças e o que for. Sua contribuição para a literatura é imensurável e sua escrita é sempre dada como profunda. Seus pensamentos serão levados eternamente em suas palavras, repassados por gerações e implantados em cada um que se disponha a lê-lo.
           

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