De Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, François Villon, Manuel Bandeira, Camões e Helena Kolody
Por Lavínnia
[De Cecília salto para Vinícius, porque]
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
[Que dure um flanar de asas, que dure uma vida!]
[Vida tão imensa, tão vazia
Um instante peregrino
Ilusório; caçando o
compreender do ser desnudo.]
[Divergente, intimado, remetente
A chuva nos lavou e nos desfez
E o sol nos fez negros e ressecados
Corvos furaram nossos olhos e eis-
Nos de pêlos e cílios despojados.
Paralíticos, nunca mais parados,
Pra cá, pra lá, como o vento varia,
Ao seu talante, sem cessar, levados,
Mais bicados do que um dedal.
[Manuel ao mínimo se apega, como um furo, eis o desejo do poeta]
Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
[E, por isso, habito no poético.]
Foge-me, pouco a pouco, a curta vida,
Se por acaso é verdade que inda vivo;
Vai-se-me o breve tempo de entre os olhos;
Choro pelo passado; e, enquanto falo,
Se me passam os dias passo a passo.
Vai-se-me, enfim, a idade e fica a pena.
[..]
Morrendo estou na vida, e em morte vivo;
Vejo sem olhos, e sem língua falo;
E juntamente passo glória e pena.
[...] Que mais me monta ser morta que vivo?
Para que choro, enfim? Para que falo,
Se lograr-me não pude de meus olhos?
[...]
Mas, sobre a maior dor que sofro e passo
Me temperem as lágrimas dos olhos;
Com que, fugindo, não se acaba a vida.
[...]
[E então, palavras, versos e estrofes - um novo viver
que flui camoniana à leveza de Helena Kolody]
Nas mãos inspiradas
Nascem antigas palavras
com novo matiz.
[Cujo reflorescer incendiário
alimenta meu jeito fragmentado de ser]
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